Uma agenda para o voto consciente por parte dos evangélicos
“A política é o espaço do bem comum”, podendo ser, portanto, entendida como uma forma de praticar o amor cristão, na medida em que, “através dela, o bem e a justiça podem chegar a todos”. Mas para que isso aconteça, é necessário que “a ação política seja baseada em valores éticos”. Além disso, a transformação da conjuntura social de acordo com a cosmovisão cristã é, também, uma forma de evangelizar. Portanto, com o objetivo de propor o voto consciente e responsável aos cristãos evangélicos, sugerimos alguns elementos que deverão ser considerados na hora da sua escolha eleitoral:
1. “Conhecer as idéias e valores do candidato e sua história pessoal”, pois somente assim “é possível avaliar bem os compromissos da campanha eleitoral. Decência pessoal e escala de valores, orientada para o interesse público, é o que se deve buscar num candidato”. Se ele se identifica como cristão, é importante saber a que igreja ou comunidade ele está filiado, e se ele a freqüenta regularmente, buscando conselho e prestando contas à mesma.
2. Também se deve considerar se seus projetos estão de acordo com os do partido ao qual ele está filiado, pois ao votar em um candidato vota-se também num partido, ajudando a eleger candidatos do mesmo partido. Por isso, é preciso conhecer os programas e a filosofia do partido. No caso de candidatos evangélicos, se deve averiguar se estes e seus partidos não somente afirmam, mas estão comprometidos com a separação entre a igreja e o estado, lembrando que toda autoridade procede de Deus.
3. Lutar contra todas as formas de corrupção (a) apoiando mecanismos de controle do uso do dinheiro público e das prioridades do governo; (b) colaborando para que projetos tais como o Ficha Limpa, que tratem sobre a ética nas eleições, sejam conhecidos e aplicados; (c) denunciando o uso da máquina administrativa federal, estadual ou municipal para favorecer determinados candidatos; (d) em conformidade com a lei no 9.840, denunciando a compra de votos através de dinheiro ou promessas de vantagens pessoais, assim como quem obrigue os eleitores a votar em determinados candidatos, seja por meio de ameaças, seja através de pressão religiosa.
4. Apoiar propostas que defendam a vida e a dignidade do ser humano em qualquer circunstância. “A vida humana é sagrada, desde sua concepção até a morte natural”. Portanto, defender a vida inclui (a) combater o aborto e a eutanásia; (b) reprimir a violência por meio de políticas de segurança pública realistas; (c) promover uma ética do trabalho que enfatize virtudes bíblicas tais como honestidade, pontualidade, diligência, obediência ao quarto mandamento (“seis dias trabalharás”), obediência ao oitavo mandamento (“não furtarás”) e obediência ao décimo mandamento (“não cobiçarás”); (d) defender o direito à propriedade privada como direito fundamental (cf. Êx 20.15, 17; 1Rs 21).
5. “Analisar se o candidato defende a liberdade de educação e a formação integral do ser humano, inclusive em sua dimensão religiosa”, deste modo promovendo uma escola digna e de qualidade para todos. Verificar também se ele promove as liberdades individuais, por meio do estabelecimento de normas gerais de conduta, que redundem em liberdade de expressão, associação e de imprensa.
6. Rejeitar candidatos e partidos com ênfases estatizantes e intervencionistas nas esferas familiar, eclesiástica, artística, trabalhista e escolar, que conceba um ambiente onde se tem pouca ou nenhuma liberdade pessoal e nenhuma liberdade econômica. Para a fé cristã, a família, a igreja, o trabalho e a escola são esferas independentes do estado, pois existem sem este, derivando sua autoridade somente de Deus. Logo, o papel do estado é mediador, intervindo quando as diferentes esferas entram em conflito entre si ou para defender os fracos contra o abuso dos demais. Conseqüentemente, os cristãos devem resistir a todo sistema político totalitário (cf. At 5.29; Ap 13.1-18).
7. Repudiar ministros, igrejas ou denominações que tentem identificar determinada ideologia com o reino de Deus ou com a mensagem bíblica. Como afirma a Declaração de Barmen [8.18], “rejeitamos a falsa doutrina de que à Igreja seria permitido substituir a forma da sua mensagem e organização, a seu bel-prazer ou de acordo com as respectivas convicções ideológicas e políticas reinantes”. A igreja, ao proclamar com fidelidade a Palavra de Deus, influencia o estado, de modo que suas leis se conformem com a vontade de Deus, decorrendo daí conseqüências políticas de tal fidelidade ao chamado primário da comunidade cristã.
8. Apoiar candidatos comprometidos com propostas e leis que sejam derivadas da lei de Deus, como revelada nas Escrituras, posto que esta é a fonte absoluta e final da ética pessoal, eclesiástica e social. Há que se ter compromisso por parte do candidato com o contrato social, que é um acordo entre os membros de uma sociedade pelo qual reconhecem a autoridade sobre todos de um conjunto de regras, a constituição, que limita o poder, organiza o estado e define direitos e garantias fundamentais.
9. Valorizar candidatos e partidos comprometidos com o modelo republicano de governo, no qual a nação é governada pela lei constitucional e administrada por representantes eleitos pelo povo, assim como a divisão e a separação dos poderes executivo, legislativo e judiciário, de modo que nenhum governo ou ramo do governo monopolize o poder. Assim também valorizar aqueles que respeitem a alternância do poder civil, que impede que um partido ou autoridade se perpetue no poder, assim como a defesa do pluralismo político e partidário.
10. Apoiar candidatos que enfatizem as funções primordiais do Estado, onde os governantes têm a obrigação de zelar pela segurança do povo, pela qual pagamos tributos (cf. Rm 13.1-7), assim como ressaltem a limitação do poder do estado, pois a partir das Escrituras, entende-se que o governo civil não tem autoridade para impor impostos exorbitantes, redistribuir propriedades ou renda, criar zonas francas ou confiscar depósitos bancários.
Pedimos que o Cristo Rei, o único e absoluto soberano e Senhor, nos sustente e nos conduza sempre em nossas opções políticas. Façamos destas eleições um gesto de amor a este país e a nossos irmãos e irmãs, para maior glória de Deus.
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